• open air | fazenda boa vista


    xx de dezembro, 2021 – 26 de fevereiro, 2022

  • Nara Roesler tem o prazer de anunciar Ar livre vol. 2, segunda edição da exposição de esculturas na Fazenda Boa Vista realizada em parceria com a JHSF.


    Após o sucesso da primeira edição que, entre julho de 2020 e fevereiro de 2021, transformou as adjacências do Hotel Fasano em um parque de esculturas de consagrados artistas brasileiros e internacionais, a Nara Roesler apresenta uma nova seleção original de trabalhos de artistas como Artur Lescher, Amelia Toledo, Angelo Venosa, Tomie Ohtake, Laura Vinci e Marcelo Silveira. 

    Com foco na diversidade de abordagens sobre o campo tridimensional por artistas brasileiros de diferentes gerações, a galeria apresenta trabalhos que trazem uma variedade de formas, materiais e configurações que compõem o vocabulário contemporâneo da escultura e que criam relações específicas com a paisagem na qual se inserem.

     

    A seleção de trabalhos reúne artistas que fazem uso da escultura como meio de adentrar os espaços, provocando um encontro corpóreo entre o espectador e a obra, alterando sua percepção e o modo como este experiencia o espaço. Durante o tempo de exibição, os hóspedes, residentes e convidados da Fazenda Boa Vista poderão desfrutar de uma experiência artística única a partir do convívio e interação direta com as obras. A disposição das esculturas no terreno, é, ainda, um convite para explorá-lo, assim como um elogio à paisagem ao redor.

  • A linguagem escultórica constitui grande parte da produção de Amelia Toledo. No final da década de 1950, a artista inicia...

    Amelia Toledo

    Caleidoscópio, 1993

    2 chapas de aço inox espelhadas e 3 chapas de aço inox pintadas com pintura automotiva

    dimensões variáveis

    A linguagem escultórica constitui grande parte da produção de Amelia Toledo. No final da década de 1950, a artista inicia uma investigação baseada na passagem do plano ao volume, inspirando-se nos trabalhos de Max Bill e Jorge Oteiza, que haviam sido exibidos nas edições iniciais da bienal naquela década. Suas primeiras incursões nessa linguagem, partem de um procedimento simples de cortes e dobras em chapas de diferentes metais, que podem ser recobertas de cor. Na década seguinte, Toledo estuda as superfícies espelhadas, côncavas e convexas, elemento característico de sua produção tridimensional, que refletem e deformam o espaço circundante. Apesar de fazer uso de materiais industriais, a artista entende essas experimentações ainda no âmbito de sua pesquisa que visa dar protagonismo à natureza, tendo em vista que esta passa a ser refletida e multiplicada nas superfícies espelhadas do metal, Caleidoscópio é exemplar dessa prática de Toledo. Criado originalmente como instalação permanente para a estação de metrô do Brás, em São Paulo, o trabalho é composto pela disposição de chapas de aço inox, polidas e coloridas, com o intuito de criar uma espécie de labirinto aberto, no qual o público se desloca, percebendo os reflexos distorcidos, devido às curvaturas das placas de metal, que ali se projetam.

  • vista da exposição Amelia Toledo: 1958–2007, Nara Roesler New York, EUA, 2021, foto © Charles Roussel
  • Os trabalhos escultóricos de Angelo Venosa usualmente nos remetem a fósseis, fragmentos ou corpos inteiros de criaturas desconhecidas, fazendo-nos refletir...

    Angelo Venosa

    Sem título, 2021

    aço corten

    74 x 120 x 197 cm | 29.1 x 47.2 x 77.6 in

    Os trabalhos escultóricos de Angelo Venosa usualmente nos remetem a fósseis, fragmentos ou corpos inteiros de criaturas desconhecidas, fazendo-nos refletir sobre as diferentes temporalidades presentes no mundo, o passado, o presente e o futuro. De fato, suas figuras trazem algo de familiar e palpável, pela sua fisicalidade, ao mesmo tempo em que trazem algo de estranho e misterioso, por não nos permitir identificar um referente exato. Suas primeiras esculturas eram feitas a partir de estruturas de madeira, cujas configurações remetiam às formas e articulações ósseas, sendo posteriormente recobertas por tecido e resina, conferindo-lhes rigidez. Entretanto, esse revestimento, ou pele da escultura, não é uma constante em seu trabalho, que muitas vezes se configura apenas como uma estrutura evidente. Sem título (2021), é exemplar nesse sentido. Feita em aço corten, material investigado pelo artista desde o final da década de 1980, ela repousa no chão como se tivesse sido recém-descoberta, ou ali tivesse acabado de pousar, vinda de uma outra realidade.

  • vista da exposição Angelo Venosa, A Clareira, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP), São Paulo, Brasil, 2021, foto © Flávio Freire
  • A investigação com diferentes formas e materiais, típica da produção de Artur Lescher, é capaz de criar um imenso repertório...

    Artur Lescher

    Parábola, 2014

    aço inox

    295 x ø 170 cm | 116.1 x ø 66.9 in

    A investigação com diferentes formas e materiais, típica da produção de Artur Lescher, é capaz de criar um imenso repertório de estruturas. Como o próprio artista dispõe: “Meu interesse se encontra na tensão entre vazio e matéria construída, com pequenas variações de luz capazes de redesenhar o espaço de forma radical. Certas coisas podem existir por si mesmas sem ter que estar em relação com outras coisas. Mas também está claro para mim que a mera presença de pessoas e objetos ativa e transforma o espaço estabelecendo contatos e contextos, que observo a partir do conceito de arte. Na minha opinião, um objeto de arte é uma espécie de armadilha capaz de atrair a percepção do espectador.”
    Parábola é uma estrutura feita com 48 peças de aço que, dispostas em círculo, cria uma forma que tanto parece irradiar de um centro, quanto convergir para ele. Ao mesmo tempo que interfere na paisagem, a escultura não a oblitera completamente, pois o espaço entre as peças introduz uma ideia de transparência, permitindo-nos ainda observá-la. Esse intervalo, por sua vez, também preenche a estrutura de um ritmo visual regular representativo da exatidão da estética industrial, que se contrapõe à organicidade da natureza ao redor. Em Parábola, como em muitos dos trabalhos de Lescher, a exatidão das configurações não nos convida à intimidade e ao toque, mas à contemplação e à percepção de nosso próprio corpo e suas relações com o espaço.

  • vista da exposição Artur Lescher Suspensão, Pina Estação, São Paulo, Brasil, 2019, foto © Isabella Matheus
  • A prática de Laura Vinci está voltada para o espaço, em especial suas relações com os corpos ali dispostos e...

    Laura Vinci

    Sem título, 2021

    marmóre 

    93 peças de 7,9 x 53,2 x 13 cm | 3,1 x 20,9 x 5,1 in (each)

    A prática de Laura Vinci está voltada para o espaço, em especial suas relações com os corpos ali dispostos e com o tempo, muitas vezes a partir do conceito de efemeridade. Sem título é uma estrutura modular, feita em blocos de mármore que desenham uma grade no chão. Além de ser um dos princípios da arte moderna, a grade é um símbolo da ação racional do homem sobre o mundo, em uma tentativa de capturar e controlar a fluidez orgânica da natureza. Por outro lado, o próprio método de construção do trabalho pode remeter ao universo lúdico do jogo, tendo em vista as possibilidades de transformação na sua estrutura que, mesmo apelando para o rigor modular, não deixa de apresentar possibilidades dinâmicas.

  • vista da exposição No Ar, instalação de Laura Vinci na exposição Pedra no Céu Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia – MuBE São Paulo, Brasil, 2017, foto © Nelson Kon
  • Entre a surpresa e o que espera é formado por um grupo de esferas, esculpidas primeiramente em madeira e então...

    Entre a surpresa e o que espera é formado por um grupo de esferas, esculpidas primeiramente em madeira e então moldadas em ferro, de modo a estabelecer uma variedade de tamanhos e texturas. A primeira edição do trabalho foi disposta em diversos espaços públicos, onde, a cada noite eram movidas para outro lugar, surpreendendo continuamente o público. Ao exibir sua obra sem aviso ou contexto definido, Marcelo Silveira propunha uma forma de relação com o objeto artístico que não fosse mediada por qualquer discurso, proporcionando uma experiência direta com este. As esferas foram colocadas em diversas calçadas movimentadas de Recife, perturbando os transeuntes, despertando sua curiosidade e atenção. Estes, ao se depararem com essas formas misteriosas, com funções desconhecidas e em lugares inesperados, inevitavelmente, especulavam sobre seu significado.

  • Suas formas arredondadas aparentam uma facilidade de movimentação no espaço, enquanto sua constituição material contradiz essa expectativa. Criando disparidades entre...

    Marcelo Silveira

    Entre a surpresa e o que se espera, 2001

    ferro

    13 peças de dimensões variáveis

    Suas formas arredondadas aparentam uma facilidade de movimentação no espaço, enquanto sua constituição material contradiz essa expectativa. Criando disparidades entre as características relativas às categorias de forma e matéria, Silveira reforça o efeito de estranhamento ao mesmo tempo que abre o trabalho à interpretação. Por fim, Entre a surpresa e o que espera é expressão do interesse de Silveira pela inserção de objetos e materiais tidos como não-artísticos no contexto da arte, muitas vezes desinvestindo esses objetos funcionais de qualquer propósito anterior como modo de ampliar as possibilidades do público em questionar, contemplar e criar significados para esses trabalhos de forma autônoma. 

  • vista da exposição Marcelo Silveira, Hotel Solidão, Nara Roesler New York, EUA, 2022, foto © Charles Roussel
  • A nipo-brasileira Tomie Ohtake possui diversas obras públicas espalhadas pelo país e, em especial, pelo estado e pela cidade de...

    Tomie Ohtake

    Sem título, 2000

    tinta automotiva sobre aço carbono tubular

    170 x 285 x 250 cm | 66.9 x 112.2 x 98.4 in

    A nipo-brasileira Tomie Ohtake possui diversas obras públicas espalhadas pelo país e, em especial, pelo estado e pela cidade de São Paulo, lugar que elegeu como sua morada. Desde 1983 a artista realizou projetos para o espaço público em aço recoberto por uma camada sólida de tinta. Contudo, foi por ocasião de sua participação na 23ª Bienal de São Paulo, em 1996, que Ohtake criou uma série de esculturas tubulares em aço, cujo aspecto remete à uma linha tridimensional suspensa no espaço, inaugurando mais uma fase formal que viria a florescer nos anos seguintes. Uma das estruturas foi pendurada no vão do Pavilhão da Bienal, criando um diálogo com a sinuosidade das linhas de Oscar Niemeyer, enquanto outras eram dispostas diretamente sobre o chão.

  • Tomie Ohtake

    Sem título, 2000

    tinta automotiva sobre aço carbono tubular

    180 x 224 x 310 cm | 70.9 x 88.2 x 122 in

  • As três esculturas aqui apresentadas, todas sem título, são resultado desse processo em que a artista faz convergir a linguagem...

    Tomie Ohtake

    Sem título, 2000

    tinta automotiva sobre aço carbono tubular

    180 x 230 x 250 cm | 70.9 x 90.6 x 98.4 in

    As três esculturas aqui apresentadas, todas sem título, são resultado desse processo em que a artista faz convergir a linguagem gráfica e a escultórica. Esses trabalhos têm dimensões menores que suas icônicas obras públicas e podem tanto estar sutilmente equilibradas sobre si mesmas, dispostas sobre o chão, como podem sair do teto ou das paredes, conectando os espaços, ou irrompendo da paisagem com suas formas serpenteantes. Esses objetos em aço pintados de branco revelam um pensamento expandido
    do desenho, tendo em vista a agilidade da forma que nos faz pensar em um traço realizado instintivamente, dialogando com o espaço ao redor como se sublinhasse a paisagem.

  • Sem título, 1996, de Tomie Ohtake, na XXIII Bienal Internacional de São Paulo São Paulo, Brasil, 1996, foto © Fernando Chaves