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raul mourão
empty head
27 de abril – 19 de junho, 2021
nara roesler new york
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Nara Roesler tem o prazer de apresentar Empty Head, primeira individual de Raul Mourão em sua sede em Nova York. A exposição traz uma seleção de trabalhos recentes do artista capazes de sintetizar e conectar sua abordagem formal com um discurso político engajado com a atualidade.
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rebel
As esculturas da série Rebel, são resultado de uma pesquisa que Raul Mourão tem desenvolvido ao longo das últimas duas décadas. Um dos focos de interesse da prática do artista repousa nas estruturas urbanas, em especial, aquelas utilizadas para delimitar e dividir territórios que dividem o espaço público do privado. Nesse sentido, Mourão vem investigando, em diferentes configurações, as possibilidades plásticas de grades e portões, em construções baseadas em dicotomias, tais como segurança e ameaça, cheio e vazio, dentro e fora.
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Mourão tem conferido dinamismo às suas estruturas ao criar esculturas de grande escala, em aço corten, que, ao serem ativadas pelo público, colocam-se em movimento. Usualmente, suas esculturas são construídas a partir de duas peças que se articulam em um equilíbrio que, à primeira vista, pode parecer precário. Mourão ressalta que muito mais do que trabalhos cinéticos, eles são objetos interativos, pois o toque e interação do público são fundamentais para ativar a obra. Esse engajamento do observador é uma metáfora de seu próprio envolvimento com questões políticas e sociais presentes na vida cotidiana.
As três novas peças da série Rebel, que tem sido desenvolvida desde o ano passado, distanciam-se do caráter arquitetônico presente em obras anteriores, que possuíam formas que remetiam a elementos como marquises, arcos, e outros. As esculturas de Rebel se aproximam de uma gramática maquínica, com mais peso e matéria, capazes de criar maior embaralhamento visual e tom mais imponente. O peso das peças nos faz pensar não só na gravidade como força física, mas nos leva a refletir sobre relações de movimento e fixidez, peso e leveza, violência e cuidado, e, por fim, vida e morte.
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the new brazilian flag
Durante o carnaval de 2018, uma das mais tradicionais festas populares brasileiras, Raul Mourão realizou uma intervenção artística nos Arcos da Lapa, um dos cartões-postais do Rio de Janeiro. Os Arcos é um dos símbolos do período colonial brasileiro, sendo uma das mais importantes obras arquitetônicas do período, devido à sua escala e função estratégica no abastecimento de água da cidade. O aqueduto, que foi responsável por abastecer a cidade, encontra-se agora desativado e serve de entrada para um dos bairros mais famosos da cidade, a Lapa, tradicional bairro boêmio, cenário de acontecimentos artísticos e políticos.
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The New Brazilian Flag, 2018
mineral pigment on cotton photographic paper
60 x 60 cm | 23.6 x 23.6 in
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Mourão realizou uma intervenção sobre a bandeira brasileira em que subtraiu do símbolo nacional seu círculo central, de cor azul, em que constam as 27 estrelas representativas dos estados brasileiros, além da faixa com o lema “ordem e progresso”, máxima depurada da doutrina positivista de Auguste Comte. Essa bandeira alterada foi disposta nos Arcos e então fotografada pelo artista. Nos anos seguintes, Mourão seguiu desdobrando o motivo em diferentes composições, variando tamanhos, assim como, por vezes, utilizando mais de uma bandeira em um mesmo arranjo.
Para o artista, a potência iconoclasta desse gesto também se atualiza com o contexto atual da pandemia e o modo como o governo brasileiro enfrenta a situação. Esse fenômeno é comum no trabalho de Mourão, cujo caráter contestador é capaz de se adaptar tanto a contextos abrangentes quanto aos mais específicos.
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The New Brazilian Flag # 3, 2019
fabric
135 x 197 cm | 53.1 x 77.6 in
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bottles and glasses
Essa série de esculturas do artista é um desdobramento de suas esculturas cinéticas interativas em grande escala. Contudo, nesses trabalhos, Mourão mistura dois materiais. Para a base das suas estruturas ele utiliza copos e garrafas de vidro. Já a parte superior, que pode ser ativada pelo público, colocando-se em movimento, é feita em metal. Os objetos de vidro utilizados por Mourão nessas composições são materiais presentes no cotidiano brasileiro. As garrafas de bebidas alcóolicas, e por vezes os copos utilizados, são aqueles que armazenam bebidas – vinho, cerveja e cachaça – ou que servem para consumí-las em botecos, típicos bares de rua nas cidades brasileiras.
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O boteco é um elemento da cultura brasileira, sua simplicidade e acessibilidade permite o trânsito de diferenças, sendo um ponto de encontro e congregação de indivíduos, de troca de ideias, estabelecimento de diálogos, de convivência de diferenças. Essas esculturas de Mourão, pela sua dimensão e materialidade, instauram de modo mais pronunciado a precariedade e instabilidade.
Segundo o poeta Eucanãa Ferraz: “A elegância dessas obras, mínimas e expressivas em seu uso restrito de recursos materiais, faz lembrar a economia de um haicai; a geometria austera e serena remete a Volpi; a humildade formalmente rigorosa reporta-nos à poesia de Manuel Bandeira. Para quem se acostumou às esculturas de grande tamanho de Raul Mourão, muitas vezes expostas em espaços públicos, e espera que suas obras sejam mais uma resposta contundente à violência da experiência urbana contemporânea, é uma surpresa ver que a resposta permance, mas agora em direção contrária.”
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bang bang
Copos e garrafas de vidro articulados formam a base para uma estrutura de metal que, em equilíbrio precário, movimenta-se em balanço ritmado. Um disparo, que apenas ouvimos e não vemos de onde vem, esmigalha os objetos de vidro. Os estilhaços lançam-se no ar, a estrutura de metal ainda balança por uma fração de segundo, agora sem o apoio da base, antes de também tombar, tendo seu movimento interrompido. Corta-se a cena para outra estrutura, com os mesmos elementos, mas em diferente composição. Mais uma vez um tiro atravessa o vidro e faz cessar o movimento ao destruir sua base.
Uma sucessão de registros de diversas esculturas de Raul Mourão sendo destruídas é o cerne do vídeo Bang Bang (2017). O cenário é um estúdio de tiro. A luz fria, a estabilidade da câmera e a precisão dos tiros, disparados por um atirador profissional, visam trazer uma maior objetividade para o trabalho. Segundo o artista, essa atenção aos detalhes deixa mais evidente a reflexão sobre a violência, seja em sua forma institucional generalizada, seja de modo mais específico, pelo atual contexto de sistemático ataque às manifestações artísticas no Brasil.
Mourão diz que a ideia da obra surgiu em 2017, quando a exposição Queermuseu sofreu censura de diferentes instâncias da sociedade brasileira. O artista vê este como um primeiro gesto de um movimento conservador que nos anos seguintes seguiu criticando e tentando legislar sobre as manifestações artísticas no país. Bang Bang (2017) surge desse contexto, e afirma-se como um modo de manifestar indignação com esse tipo de gesto.
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“Raul has conceived and produced Bang Bang in the light of the events of 2017, when Brazilian contemporary art became the target of a fascist rage that is plaguing Brazil, forcing us to witness countless cases of freedom of expression censorship. The video can thus be read as a response to a moment where art has become a target of violent forces. But it should be noted that Bang Bang in no way illustrates this situation, which would render it merely propagandist.”
– Luisa Duarte
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Raul Mourão, expoente de uma geração que marcou o cenário carioca dos anos 1990, é reconhecido por sua produção multimídia, composta por desenhos, gravuras, pinturas, fotografias, vídeos, esculturas, instalações e performances, na qual se destaca seu olhar sempre permeado pelo senso de humor crítico sobre o espaço urbano. Inspirado pela paisagem metropolitana (inicialmente a carioca), o artista cria a partir de observações do cotidiano, desenvolvendo propostas que transitam entre o documental e a ficção. Suas obras, constituídas por materiais diversos que ressignificam os elementos visuais da cidade, estimulam reflexões sobre o espaço e o corpo social.
Mourão iniciou sua produção artística na segunda metade da década de 1980, participando de exposições a partir de 1991. Realizou, em 1989, os primeiros registros fotográficos sobre grades de proteção, segurança e isolamento presentes nas ruas do Rio de Janeiro, o que resultou em sua conhecida série Grades. A partir dos anos 2000, essa pesquisa foi desdobrada e resultou em esculturas, vídeos e instalações. Desde 2010, Mourão expandiu as referências utilizadas para outras estruturas modulares de formas geométricas próprias do contexto urbano, realizando esculturas e instalações cinéticas de caráter interativo, que podem ser acionadas pelo público. Entre outros aspectos, o artista estabelece, por meio dessas obras, uma associação entre a problemática da violência urbana implícita nas obras anteriores e a preocupação formalista com o equilíbrio estrutural.
Raul Mourão nasceu no Rio de Janeiro, em 1967, onde vive e trabalha. Entre suas principais exposições individuais e projetos solo recentes, destacam-se: Fora/Dentro, no Museu da República (2018), no Rio de Janeiro, Brasil; Você está aqui, no Museu Brasileiro de Ecologia e Escultura (MuBE) (2016), em São Paulo, Brasil; Please Touch, no Bronx Museum (2015), em Nova York, Estados Unidos; Tração animal, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) (2012), Rio de Janeiro, Brasil; Toque devagar, na Praça Tiradentes (2012), no Rio de Janeiro, Brasil. Entre as coletivas recentes, encontramos: Coleções no MuBE: Dulce e João Carlos de Figueiredo Ferraz – Construções e geometrias, no Museu de Ecologia e Escultura (MuBE) (2019), em São Paulo, Brasil; Modos de ver o Brasil: Itaú Cultural 30 anos, na Oca (2017), em São Paulo, Brasil; Mana Seven, no Mana Contemporary (2016), em Miami, Estados Unidos; Brasil, Beleza?! Contemporary Brazilian Sculpture, no Museum Beelden Aan Zee (2016), em Haia, Países Baixos; Vancouver Biennial 2014-2016, Canadá (2014). Seus trabalhos figuram em coleções de importantes instituições, tais como: ASU Art Museum, Tempe, EUA; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC-Niterói), Niterói, Brasil; Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro, Brasil; e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), Rio de Janeiro, Brasil.
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