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amelia toledo: 1958–2007
curadoria de luis pérez-oramas
nara roesler new york | 25 de fevereiro – 17 de abril, 2021 -
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Amelia Toledo (1926-2017) é uma figura fundamental da arte brasileira no século XX. Sua carreira se estendeu por mais de cinco décadas e se fez marcar, inicialmente, por experimentações esculturais construtivas e pelo subsequente desenvolvimento de investigações sobre as relações entre arte e natureza. Toledo iniciou-se nas artes visuais no final da década de 1930, quando começou a frequentar o estúdio de Anita Malfatti (1889-1964), posteriormente prosseguindo seus estudos com Yoshiya Takaoka (1909-1978) e Waldemar da Costa (1904-1982).
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Ao longo de sua trajetória, a artista fez uso de variados meios e técnicas, transitando entre pintura, desenho, escultura, gravura, instalação e design de jóias, sempre mantendo uma grande atenção às especificidades da matéria e à sua aplicação. Seu trabalho esteve alinhado, primeiramente, com a pesquisa construtiva, ecoando noções do neoconcretismo e as preocupações correntes na década de 1960, em especial o interesse pela participação do público, assim como o entrelaçamento entre arte e vida. Toledo desenvolveu seu multifacetado corpo de obra a partir do diálogo duradouro e enriquecedor com outros artistas de sua geração, incluindo, Mira Schendel, Tomie Ohtake, Hélio Oiticica e Lygia Pape.
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A exposição também traz colagens de Amelia Toledo feitas em 1958, durante sua estadia em Londres. Nesses trabalhos, ela experimenta com a transparência da seda e do papel de arroz, impregnando algumas folhas com cera de abelha, o que lhes confere espessura, tornando-as quase esculturais.
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Collage, 1958
dyed rice paper and silk paper impregnated with beeswax
45,5 x 42,5 cm | 17.9 x 16.7 in
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Em exibição, também poderá ser encontrado um exemplo de seus marcantes e coloridos Penetráveis, destacando a abordagem pictórica “natural” de Toledo, que utiliza pigmentos orgânicos sobre juta, criando uma massa de cor fisicamente penetrável ao revelar o caráter maleável do suporte ao mesmo tempo em que faz emergir o jogo de transparências nele contido
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Em 1975, Toledo realizou a exposição Emergências (1975), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio). A artista apresentou uma série de esculturas moldadas a partir do corpo humano como mãos, bocas, orelhas e pés, apresentados em agrupamentos, ou individualmente. Desde 1973, Toledo realizava pesquisas que apontavam para essa direção. The Walls Have Years (1973), é um trabalho emblemático de suas primeiras incursões nessa prática. Ao invés do gesso, a artista elege a resina como matéria final do trabalho. Essa escolha revela o interesse da artista em novos materiais, elemento fundamental em toda sua produção.
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Em última análise, podemos identificar no interesse de Toledo pela natureza a base do que viria a constituir sua conquista mais marcante, desembocado em investigações sobre o conceito de paisagem, assim como no emprego em seus trabalhos de pedras e conchas coletadas compulsivamente, entre outros elementos naturais. Desafiada por esses materiais, Amelia Toledo seguiu carreira como artista e engenheira, vislumbrando as possibilidades de um concretismo ecológico.
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Em trabalhos como Parque das cores do escuro (2001), a artista faz uso de pedras para investigar cores, brilhos, transparências e as variadas formas da “carne” da terra. Toledo criou composições nas quais as peças coletadas das profundezas de cenários naturais são dispostas em variados arranjos, inclusive em diálogo com materiais “modernos”, como o aço inoxidável. As rochas não foram submetidas a nenhum tratamento que alterasse suas características originais, sendo apenas polidas de modo a revelar seus desenhos internos feitos pelos delicados veios capazes de revelar sua temporalidade.
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amelia toledo
n. são paulo, brazil, 1926
m. cotia, brazil, 2017
Amelia Toledo iniciou seus estudos em arte no final dos anos 1930, quando frequentou o Ateliê de Anita Malfatti. Na década seguinte, estuda com Yoshiya Takaoka e Waldemar da Costa. Em 1948 atua com desenho de projetos no escritório do arquiteto Vilanova Artigas. Esse contato com figuras chave da arte moderna brasileira possibilitaram o desenvolvimento de um trabalho multifacetado que faz uso de diversas linguagens como escultura, pintura e gravura. Segundo o curador Marcus Lontra: “A riqueza do trabalho de Amelia é algo próximo ao silêncio: para se compreender essa produção é necessário antes saber que a metade vazia de um copo é tão importante quanto a metade cheia. Nós só conseguimos nos comunicar, porque existe o vazio, o silêncio, o respirar entre uma palavra e outra, entre uma frase e outra. Amélia Toledo investe, e investiga esse espaço, esse momento, essa passagem.”
A produção da artista, a partir dos anos 1970, deixa de lado a gramática construtiva, com uso de elementos geométricos regulares e curvas, e passa a se debruçar sobre formas da natureza. Toledo passa a colecionar materiais variados, como conchas e pedras, que lhe servem de inspiração e sobre os quais realiza algumas intervenções pontuais. A paisagem passa a se tornar um tema fundamental de sua prática, sendo incorporada no trabalho, como nas esculturas com chapas de aço que jogam com a paisagem criando ilusões ópticas. Já a pintura da artista possui inclinações monocromáticas, revelando seu interesse pela pesquisa com a cor.
Amelia Toledo, photo: Henry Stahl
seleção de exposições individuais
• Amelia Toledo – Lembrei que esqueci, Centro Cultural Banco do Brasil
(CCBB-SP), São Paulo, Brasil (2017)
• Amelia Toledo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil (2009)
• Novo olhar, Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil (2007)
• Entre, a obra está aberta, Museu de Arte de Santa Catarina (MASC),
Florianópolis, Brasil (2006)
• Viagem ao coração da matéria, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo,
Brasil (2004)seleção de exposições coletivas
• Modos de ver o Brasil: Itaú Cultural 30 anos, Oca, São Paulo, Brasil (2017)
• 10th Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil (2015)
• 30x Bienal: Transformações na arte brasileira da 1ª à 30ª edição, Fundação
Bienal de São Paulo, São Paulo, Brasil (2013)
• Um ponto de ironia, Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, Brasil (2011)
• Brasiliana MASP: Moderna contemporânea, Museu de Arte de São Paulo
(MASP), São Paulo, Brasil (2006)
seleção de coleções institucionais
• Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal
• Instituto Itaú Cultural, São Paulo, Brasil
• Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), São Paulo, Brasil
• Museu de Arte de São Paulo (MASP), São Paulo, Brasil
• Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil